sexta-feira, 31 de outubro de 2008

A rua da amargura

foto: Vitor "sábio sabiá" Vogel

A rua da amargura

Sem lenço documento ou capa de chuva 
Vou descendo pela rua da amargura
Com meus olhos cheios de tempestade
e o coração cheio de saudades
As pernas estão cansadas a fronte está dura

Ladeira abaixo na rua da amargura!

Eu ando com pressa
Eu ando com fome
A dor que começa
É a dor que consome

É a dor do café
É a dor do cigarro
É a dor dos sem fé
É a dor do pigarro

É a minha companheira de caminhadas
Essa musa constante inspiradora de catarros
Que como uma gotejante estalactite
Despenca sobre meus passos 
Na forma intensa de uma gastrite

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Morte Feliz

Meu maior desejo
É ter glórias no enterro
Imagino como seria
Me velarem hoje em dia

Vejo todos lá, de preto,
Com lembranças minhas, [e seus discursos]
Ressaltando meu acerto e 
Ignorando meus erros
Todos em volta do caixão, e
Como num altar de podridão,
Eu lá esticado, duro
E  sorrido, é claro
Pra devolver com juros
Todo escárnio que
A vida me impôs

E se assim for:
Que apodreça a carme inútil!
Que vá, ego sem compaixão!
No fim desta vida fútil
Ao meu lado não quero nenhum chorão

sábado, 25 de outubro de 2008

O Cadeado Da Alma - Ou da Diferença entre Intenção e Gesto

O mundo acaba de pouco em pouco
Não há mais tempo para o sufoco
Tire essas roupas, solte esses cabelos
A vida, companheiro, é o seu espelho

Então reflitamos sobre a vida:
Quantos de nós vivemos plenamente?
Quantos de nós negamos a luz do dia?
Carpe diem, amigo, carpe diem!

Aaah! O punhal está no centro da sala
Reluzente e sedutor a te chamar...
E, se puder, faça como o poeta que vos fala

Pois se teu peito ainda é chaga,
Cuspa no sentimento que atormenta!
Rasga esse peito que te arrebenta!

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Que Tudo Mais Vá Para O Verso

Ontem você me perguntou:
- Oi, meu amor, como vai?
Disse: "Estou bem, sabes como estou"
Sabes também que a tristeza é o melhor
Que me cai
Porque meu melhor são meus ais,
Ai, ai...

Sabe, prefiro não escrever
Prefiro dizer não ao não
Mas é com dor que se vem
E com paz que se vai

Então, se a vida é uma linha torta
A alegria é uma percorrida rota
Onde se esvai uma lembrança morta
Que seja!

Eu quero é essa musa sádica
Eu quero essa folha pálida
Que essa mão seja a do perverso
E que tudo o mais vá para o verso
Que tudo o mais vá para o verso