segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Porque sou o homem mais vil da Terra

Por falar em sujeira e simpatia, caro leitor, ainda não me apresentei: sou o homem mais vil da terra, minha querida progenitora teve a criatividade estonteante de me apelidar oficialmente de Hermeto. Quando grávida, tal senhora trabalhava como secretária de um executivo e parte do seu ofício era anunciar o próximo a entrar na sala de seu chefe. Belo dia, após anotar zilhão de nomes, ela anunciou:

_ Sr. Hermeto, dirija-se à sala do diretor.

Maldito xará, maldito dia. Em conseqüência desse episódio lamentável, tornei-me o principal alvo de piadas na escola, não havia dia em que após a chamada algum fedelho não fizesse qualquer piadinha infame. Em troca, eu também inventava apelidos para os colegas, mas nem nisso eu era bom, eram alcunhas péssimas, fora de contexto e infantis demais ainda que maldosas.

Então virei um adolescente frustrado. Não era bom aluno, não era bom nos esportes e as meninas não me queriam porque sempre fui tão feio quanto meu nome. Minha principal fonte de prazer, além da masturbação, era passar trotes por telefone. É inenarrável, como um bom orgasmo, o prazer que sentia ao desligar o telefone antes que minha vítima pudesse responder algo mais ofensivo, perspicaz ou inteligente.

Nessa época eu quis descobrir o satanismo, pensei que o fato de eu ser tão boçal se devia a algum motivo luciferista. Fui à livraria mais próxima, na seção "exotéricos" e comprei desde livros do Paulo Coelho até o manual de magia negra de São Cipriano. E pasme, caro leitor, trancafiei até o Brida em um baú para nunca lê-los, pois tive a sensação de ser seguido da rua até minha casa. Imaginei que fosse um espírito, o demônio talvez? Fato é que na primeira noite não consegui dormir de medo, então tirei o baú do meu quarto e os escondi no sótão para nunca mais vê-lo.

domingo, 9 de agosto de 2009

Tic, Tac, Tic, Tac

Trirrrrrrm! Hora de ir para a faculdade. O vizinho não virá, ainda são seis da manhã. Despertador inútil, me serviria mais se fosse um relógio dormidor: bastaria olhar para seus ponteiros, tic, tac, tic, tac e o sono viria leve, como um embalo, simples.

Cumprimento o jornaleiro da esquina, ele acha engraçado eu não pentear meu cabelo. Se pelo menos as pessoas na faculdade fossem como o jornaleiro que fica contente em não saber meu nome, mas não, tem sempre alguém curioso demais ou simpático o suficiente para abrir a boca:

_ Bom dia Hermeto, tudo bem?

Poderia dizer-lhe:

_ Fora minha insônia, o fato de eu ter vomitado antes de vir a aula e a situação política em que nossa jovem democracia se encontra, não há nada do que se reclamar.
.
Mas o que sai de minha garganta arranhada é um seco e sujo "tudo".

sábado, 8 de agosto de 2009

Sábio Sabiá

Minha terra tem convés
Onde samba o sabiá
O sábio que aqui navega
Não navega como o de lá


Minha terra tem cachaça
Que espanta té guará, porém
A chachaça que me embebeda
Não espanta o sabiá

Nessa terra tem morenas,
Nosso bairro tem mais loiras,
Nosso campus tem meninas,
Quanto o sábio tem amores

Se cismar de sair à noite,
Lá ele estará,
Ceifando flores como uma foice,
O Sábio Sabiá