"Preciso emagrecer dois quilos" "Talvez três" "Acho que Adriano não gosta de mim de verdade" "Essa roupa fica bem em mim? Não sei" "Onde está Manuela? Vou procurar" "Vou trocar de roupa, vou colocar aquela blusa que Adriano gosta". Pensou.
_ Oi Manu, bom dia! "vaca" Ai, amiga, você acha que eu estou gorda?
_ Bom dia. Que isso Pérsia, você está linda. Vai encontrar o Adriano hoje?
"mentirosa" _ Ai, eu estou feia? Ele anda tão estranho comigo. Ontem ele me disse que precisava estudar mas a voz dele no telefone tava tão diferente que eu achei que era comigo, ele não me procura, não me liga, a gente só se vê quando eu procuro, só se fala quando eu ligo, ai, acho que esse namoro não está bem...
_ Calma, Pérsia, você é linda, é que o Adriano está em semana de provas. Não se preocupe...
"Eu percebi como você olha pra ele" _ Você sempre fica ao lado dele contra mim, nem parece minha amiga! Estou cansada disso, sabia? Agora vai defendê-lo também? Ele é super desleixado comigo, não me dá valor, nunca me dá um presente. Nem uma lembrancinha! Não peço nada caro, só quero que ele se lembre de mim, pô! Me diga, eu mereço um namorado assim?
_ Então termine com ele, oras!
"Eu sabia!" _ Ai amiga... mas eu amo ele...
_ Então tenha paciência, espere essa semana passar e converse com ele. Mas converse direitinho que eu sei que ele vai entender.
"Semana que vem vou estar de TPM" _ Ok, amiga. Até mais, vou nessa agora. Fui.
"Vaca, quer que eu termine com ele! Quer que eu converse com ele durante a minha TPM. A MINHA TPM!! Ela sabe que eu fico louca na TPM" "Ai, tenho que emagrecer três quilos" "Será que ele vai gostar dessa roupa, acho que engordei"
Esse blog é produto de um processo dialético. Uma cadeia de relações complexas e contraditórias entre a produção de espasmos estomacais e poesia. Esse é o devir da minha úlcera.
terça-feira, 2 de outubro de 2012
quarta-feira, 15 de agosto de 2012
CHOCOLATE
A casa colonial tinha telhados velhos. E três lindas mulheres que a faziam de república. Eram mulheres, mas falavam como meninas, se moviam como meninas e adoravam que as vissem como meninas. A misteriosa república ficava em frente a uma pensão, uma outra casa de muros brancos e janelas azuis de madeira corroída.
A pensão era habitada por 33 meninos. Se comportavam como meninos mas queriam que os vissem como homens. Prova irrefutável de masculinidade, diziam eles, era o número e a qualidade dos corpos femininos que possuíam na faculdade.
Logo que a república vizinha foi descoberta - não demorou muito - as três vizinhas tornaram-se motivo de fantasia e disputa na pensão.
Nossa história começa no dia em que Rui descobriu que Manuella gostava de chocolates.
Rui tinha 19 anos, estudara em escola pública toda a vida e passara para o faculdade de Letras através da reserva de vagas. Tímido, negro e franzino, não era o que as mulheres achavam mais atraente. Sua cabeça tinha a metade da largura dos ombros - não que tivesse um enorme crânio, coitado, mas seus ombros eram deveras arqueados e encolhidos - seus braços eram finos e suas mãos grandes. Seu tórax era levemente convexo, tinha pernas de varapau.
No dia em que Rui descobriu que Manuella gostava de chocolate, estava marcada há mais de um mês uma prova de Semiótica e Rui passara noites em claro se preparando para ela. Sua escrivaninha ficava em baixo da janela do quarto que dividia com mais quatro rapazes que roncavam mais baixo do que falavam.
Nosso herói franzino trocou de roupa em frente a janela aberta naquela manhã. Enquanto Rui se jogava dentro das calças, Manuella penteava os cabelos em frente ao espelho, espiando com o canto dos olhos a cena engraçada que se desenrolava do outro lado da rua.
Na pensão, Rui procurava - já atrasado - sua camisa de botões em um bolo de roupas num canto da cama. Levantou-se com pressa, bateu o crânio na beliche, abotoou o primeiro botão errado, desabotoou, abriu os braços, fechou os olhos e disse:
_ Calma, respire fundo. Desse jeito você vai perder a prova.
Rui abriu os olhos. Do outro lado, rindo, linda e ruiva estava Manuella. Cabelos penteados, sardas pequenas no rosto. Olhos verdes. Lindos olhos verde-esmeralda, magra de seios médios mas fartos. Em sua boca pintada de batom abóbora-claro um crocante chocolate acompanhava um copo de leite. Era seu desjejum. Rui fechou a camisa as pressas, calçou o tênis velho e saiu pedalando o mais veloz que pode pelas ruas de Niterói.
"Ela gosta de chocolate" pensou Rui. E aquela manhã lhe foi ótima.
A casa colonial tinha telhados velhos. E três lindas mulheres que a faziam de república. Eram mulheres, mas falavam como meninas, se moviam como meninas e adoravam que as vissem como meninas. A misteriosa república ficava em frente a uma pensão, uma outra casa de muros brancos e janelas azuis de madeira corroída.
A pensão era habitada por 33 meninos. Se comportavam como meninos mas queriam que os vissem como homens. Prova irrefutável de masculinidade, diziam eles, era o número e a qualidade dos corpos femininos que possuíam na faculdade.
Logo que a república vizinha foi descoberta - não demorou muito - as três vizinhas tornaram-se motivo de fantasia e disputa na pensão.
Nossa história começa no dia em que Rui descobriu que Manuella gostava de chocolates.
Rui tinha 19 anos, estudara em escola pública toda a vida e passara para o faculdade de Letras através da reserva de vagas. Tímido, negro e franzino, não era o que as mulheres achavam mais atraente. Sua cabeça tinha a metade da largura dos ombros - não que tivesse um enorme crânio, coitado, mas seus ombros eram deveras arqueados e encolhidos - seus braços eram finos e suas mãos grandes. Seu tórax era levemente convexo, tinha pernas de varapau.
No dia em que Rui descobriu que Manuella gostava de chocolate, estava marcada há mais de um mês uma prova de Semiótica e Rui passara noites em claro se preparando para ela. Sua escrivaninha ficava em baixo da janela do quarto que dividia com mais quatro rapazes que roncavam mais baixo do que falavam.
Nosso herói franzino trocou de roupa em frente a janela aberta naquela manhã. Enquanto Rui se jogava dentro das calças, Manuella penteava os cabelos em frente ao espelho, espiando com o canto dos olhos a cena engraçada que se desenrolava do outro lado da rua.
Na pensão, Rui procurava - já atrasado - sua camisa de botões em um bolo de roupas num canto da cama. Levantou-se com pressa, bateu o crânio na beliche, abotoou o primeiro botão errado, desabotoou, abriu os braços, fechou os olhos e disse:
_ Calma, respire fundo. Desse jeito você vai perder a prova.
Rui abriu os olhos. Do outro lado, rindo, linda e ruiva estava Manuella. Cabelos penteados, sardas pequenas no rosto. Olhos verdes. Lindos olhos verde-esmeralda, magra de seios médios mas fartos. Em sua boca pintada de batom abóbora-claro um crocante chocolate acompanhava um copo de leite. Era seu desjejum. Rui fechou a camisa as pressas, calçou o tênis velho e saiu pedalando o mais veloz que pode pelas ruas de Niterói.
"Ela gosta de chocolate" pensou Rui. E aquela manhã lhe foi ótima.
quinta-feira, 26 de julho de 2012
Prólogo
Dizem que a insônia é uma doença. Ninguem acha estranho que a maioria das pessoas percam um terço de suas vidas dormindo. Para ser mais claro, a média de vida do brasileiro cairia em torno de 20 anos se cortássemos o tempo que ele passou sonhando. Sim, sonhando, embora você não se lembre, as ultimas noites de seu precioso sono foram recheados de sonhos, assim como todas as outras.
Pegue um cigarro, retire seu fumo e misture tabaco no pó de café, coe em água fervendo e tome algumas xícaras durante a noite. Use açúcar, a glicose ajuda a gerar a energia necessária. Depois, fume.
Muitas pessoas veem na noite um bom momento para a reflexão, pensar na vida. Deve ser por isso que a maioria dos suicídios acontecem após o por do Sol. Dizem que o suicídio é um ato de covardia. Eu discordo. Não há nada que desperte mais temor no ser humano que a morte, encara-la serenamente, olhos nos olhos, é um dos atos mais corajosos que se pode ter.
Outros dizem que o suicídio é uma fuga. Fuga para onde? Viver é fugir. Fugimos constantemente da morte, nos entregamos à religião, à fé, aos prazeres e aos desejos das maneiras mais ridículas. Viver é ser covarde. Assim como dormir, pois dormir é uma forma de fugir da vida sem morrer.
È bom ser covarde, ser covarde é gostoso. Se não fosse não haveria tantos. Ninguém quer insônia, ninguem quer revolver seus próprios demônios, todos acham o máximo a grande moral da história da chapeuzinho vermelho.
Chapeuzinho vermelho era uma menina muito obediente que amava seus pais e sua vovó. Um dia sua vovó ficou doente e chapeuzinho quis levar a ela alguns doces. Antes de sair de casa sua mãe lhe avisou para que não fosse pelo caminho da floresta pois era perigoso e havia um lobo mau naquelas bandas. A menina desobedeceu sua mãe e foi pela floresta porque pela cidade era mais longe. O lobo quase a devorou assim como a sua vovó por causa disso. Moral da história: evite os problemas e obedeça seus pais.
O certo seria ir pela floresta e, caso o lobo aparecesse, mata-lo. Ou morrer.
quarta-feira, 18 de julho de 2012
Porque ainda sou um homem
Eis que chego na fase adulta.
Não tenho muito o que dizer sobre ela. Embora sofra do fígado, acho que também estou mal das artérias, meu estômago não está bem. Penso em procurar um médico.
Acho que pulei essa fase.
Está na hora de me preparar para a morte. A velhice é o velório que podemos participar. Devia escrever um livro, ter um filho e plantar uma árvore... Porra nenhuma. Se tiver que deixar algo para essa vida que (apesar de mim) continua, que seja vazio, um nada. Que não se lembrem de mim.
Não tenho muito o que dizer sobre ela. Embora sofra do fígado, acho que também estou mal das artérias, meu estômago não está bem. Penso em procurar um médico.
Acho que pulei essa fase.
Está na hora de me preparar para a morte. A velhice é o velório que podemos participar. Devia escrever um livro, ter um filho e plantar uma árvore... Porra nenhuma. Se tiver que deixar algo para essa vida que (apesar de mim) continua, que seja vazio, um nada. Que não se lembrem de mim.
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