Minha garganta arranha. Num salto estou pelo corredor. A mão trava a boca em vãos que se formam por entre os dedos, o suco amarelado escorre pelo punho até manchar a pia do banheiro. Aos poucos tudo está no ralo.
Meus pés frios tocam o chão de azulejos, sinto sob o dedão a pasta de dente que derrubei ontem... Onde está o pão-de-queijo? Não deve estar sob a mesa, além disso não irei me ajoelhar sobre esse carpete: sou alérgico a poeira.
Se o telefone tocasse, se um e-mail chegasse, se pelo menos não parecesse que vivo na Lua. Até a gravidade no meu apartamento parece diferente, sinto que posso flutuar, como se o ar não existisse. Sei lá. Talvez se um vizinho batesse à porta:
_ Olá Vizinho! Poderia me emprestar uma chícara de açúcar?
_ Pois não, Vizinho! Pode levar o quilo, depois você me devolve...